Au Revoir Carnaval!
29/02/2004
“Os momentos de intensa felicidade são por natureza fugazes. Se todo dia é Carnaval, acabou o Carnaval.
A garota de Ipanema é, por definição, a ‘que vem e que passa’, jamais a que fica.” (EduardoGiannetti da Fonseca)
Perguntei a um amigo como havia se saído em uma entrevista de seleção para a qual fora convocado e que aguardava com grande ansiedade. Ele me respondeu resignado: “A entrevista foi desmarcada. Agendaram para logo depois do Carnaval”.
Almoçando com um empresário, notei sua apreensão para com os resultados de suas vendas neste mês. “Todos os anos é a mesma coisa. Os clientes ativos deixam para repor seus estoques apenas em março e os novos clientes preferem negociar os orçamentos após o Carnaval”, relatou-me.
Reinício das aulas na faculdade. Entro na sala e sinto-me como em um auditório, tamanho o número de cadeiras vagas. Presentes apenas 30% dos alunos. “Primeira semana de aula é meio devagar mesmo, professor. Depois do Carnaval estarão todos aqui”, procuraram mitigar aqueles dissidentes alunos.
Oportunidades de trabalho não preenchidas, produtos não fabricados, aulas não ministradas, conhecimento não compartilhado.
Há uma doença congênita que assola nosso país. Uma doença que ceifa empregos, impede o crescimento da renda, reduz o dinamismo da Economia, prejudicando toda a sociedade, mas que se reveste como algo bom, travestido com a toga da alegria. Esta doença atende pelo nome de Carnaval.
Estamos em um ano bissexto, com seus 366 dias, dos quais 104 correspondem a sábados e domingos. Acrescentamos a este número mais 17 dias relativos a feriados e dias emendados a partir dos mesmos, chegando a 121 dias, ou seja, um terço do ano, onde grande parte da população não trabalhará, não produzirá.
É evidente que há uma miríade de pessoas que exercem suas atividades profissionais aos sábados e, até mesmo, aos domingos. Mas estou querendo fazer aqui uma abstração, para sinalizar que não há mais tempo a perder para quem se propõe a construir uma nação mais próspera e justa.
É fato notório que, exceção feita à indústria do turismo, muitos setores econômicos são prejudicados pela ocorrência do Carnaval em meados ou fins de fevereiro. Já experimentamos uma retração natural no período entre o Natal e o Ano Novo. Que bom seria se o Carnaval acontecesse logo na primeira semana de janeiro! Assim, teríamos todos um recesso coletivo que convidaria o país a retomar com pujança suas atividades a partir, aproximadamente, do dia 10 de janeiro.
Que se preserve a “alegria do povo”. Que aproveitemos os momentos de ócio e lazer, certamente imprescindíveis. Mas que tenhamos consciência da efemeridade desta alegria, a qual nos está consumindo o tempo. E, como diria Machado de Assis, “Nós matamos o tempo, mas ele nos enterra”.
Meu amigo desempregado terá que aguardar… para depois do Carnaval.
Meu colega empresário terá que suportar suas contas a pagar até… depois do Carnaval.
Minhas aulas somente poderão ser apresentadas… após o Carnaval.
Pensando bem, acredito que vou começar uma campanha pela antecipação da comemoração… do Carnaval!
Tom Coelho é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp.
Site: www.tomcoelho.com.br
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