O varejo que não quer saber de internet
20/03/2003
No dia 1º de janeiro de 1958, Samuel Klein, que veio da Polônia e começou a ganhar a vida no Brasil como mascate, inaugurou sua primeira loja, em São Caetano do Sul. Batizou-a de Casas Bahia, em homenagem aos fregueses, em sua maioria nordestinos, que vinham a São Paulo em busca de oportunidades e trazidos para trabalhar na construção da indústria automotiva que começava a proliferar na região.
Hoje, seu filho Michael Klein preside a rede de 325 lojas em todo o Brasil. É um dos mais prósperos negócios na categoria varejo, que faturou 4,2 bilhões de reais em 2002 e, ao contrário de toda a concorrência, optou por não vender seus produtos pela internet. Por quê? A mídia não chega ao consumidor típico da Casas Bahia, que possui renda familiar inferior a cinco salários mínimos e muitas vezes sequer tem um telefone em casa.
Os meios de pagamento comuns à Web, como o cartão de crédito, também não têm penetração nas classes C, D e E. Se o público da Casas Bahia tivesse acesso à internet, ainda assim não teria como pagar. A partir de setembro de 2002, a companhia incluiu o cartão de crédito como uma das opções de pagamento e as vendas nesta modalidade não representam 2% do total.
Não há como acreditar que a internet possa ser uma grande fonte de receita para uma companhia em que 66% dos consumidores pagam a conta com dinheiro vivo. “Estamos falando do Brasil de verdade, de pessoas que não têm cheque”, afirma Michael Klein. Pelo menos nos próximos três anos, o executivo não pretende incluir o comércio eletrônico em sua estratégia. Motivo? Não perder o foco. “Não somos contra o comércio eletrônico. Temos tudo informatizado, todos os lançamentos nas lojas são feitos online com o estoque e tenho toda a posição do faturamento segundo a segundo. Mas preferimos trabalhar para os 95% da população que não têm acesso à internet.” (segue)
Melissa Sayon
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