Alguns pontos sobre a telecomunicação brasileira
No dia 29 de julho de 1998 acontecia um dos leilões de privatização mais polêmicos por que nosso país passou. Naquele dia, a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro transformou-se, por alguns momentos, em uma praça de guerra, tamanhas eram as controvérsias em torno das empresas e compradores envolvidos no processo. O leilão aconteceu e as estatais do setor de telecomunicações passaram ao controle da iniciativa privada. Hoje, embora polêmicas sobre o assunto ainda persistam, as análises fundamentadas nos acontecimentos desses últimos cinco anos são mais consistentes e ajudam na formação de um cenário mais real para o setor, principalmente no que se refere à telefonia móvel.
É interessante olhar as conseqüências da privatização das telecomunicações no Brasil sob diversos pontos de vista. O primeiro e mais visível para a população é o tecnológico. Não há como negar que, de cinco anos pra cá, os brasileiros experimentaram soluções e tecnologias inovadoras.
Fato significativo foi a chegada ao Brasil, há um ano, do sistema GSM (Global System Mobile), já utilizado por mais de 70% dos usuários de aparelhos móveis do mundo. Entre as inúmeras vantagens oferecidas pelo GSM, podemos destacar a possibilidade de troca de dados e imagens em alta velocidade, aplicativo que possibilita soluções corporativas e cuja eficiência dá às empresas um significativo diferencial competitivo.
Um exemplo destes avanços é a segurança que pode ser obtida através da implantação de um chip em um carro ou em uma frota que será rastreada e terá informações transmitidas em alta velocidade e a um custo acessível, através do sistema GSM. A conveniência de se fazer transferências bancárias e diversas outras atividades comerciais pelo telefone. Ou, ainda, o conforto de poder acessar a Internet sem fio em ambientes públicos.
Tudo isso, aliado ao sem-número de novos modelos de aparelhos que começaram a desembarcar no Brasil, fizeram com que a telefonia celular por aqui se transformasse em algo que transcende simplesmente a idéia de um ótimo negócio. O que aconteceu pode ser considerado uma verdadeira mudança de comportamento no país. Vide também o aumento a cada ano no tráfego de mensagens, as chamadas short messages, enviadas por telefones.
Pelo lado empresarial é certo que o aumento da competição foi benéfico para os clientes que passaram a poder escolher entre uma enorme gama de planos, tarifas e aparelhos, aqueles que melhor lhes atendem. Desde o início, grupos estrangeiros tomaram suas posições no espectro da divisão das dez áreas determinadas pela Anatel, de olho em um mercado potencial dos mais promissores do mundo.
E não estavam errados. Hoje, calcula–se que 20% da população brasileira possua aparelhos celulares, proporção que se equivale ao que se verifica em escala mundial. Em todo o planeta, existem aproximadamente 1,2 bilhão de aparelhos celulares, para uma população de 6 bilhões de habitantes.
Grupos menores também participaram da divisão do bolo e alguns, a despeito dos altos investimentos exigidos pela tecnologia do setor e a grande competitividade do mercado, ainda sobrevivem, mesmo sendo constantemente fustigados a venderem suas participações na telefonia móvel.
Agora que o setor de telecomunicações está livre para a realização de fusões e aquisições com o aniversário de cinco anos da privatização, a pressão sobre os “pequenos” deve aumentar ainda mais e parece inevitável que o desenho se refaça e se concentre nas mãos de não mais que cinco grupos, certamente aqueles que possuírem mais “bala na agulha”.
Prova disso é que hoje temos cinco grandes grupos em todas as bandas, a metade do que tínhamos apenas na banda A logo após a privatização. Quando esse desenho será definido é, atualmente, a grande questão que se impõe.O que se achava era que o ritmo seria cada vez mais acelerado em direção à concentração das operações. O problema é que, com as fusões e aquisições já ocorridas, formou-se um modelo bastante intrincado no que diz respeito aos acionistas dos grupos controladores. Muitos interesses se conflitam e, somente quando tais conflitos tiverem uma solução, os nós serão desatados e o cenário do controle da telefonia móvel no país poderá ser melhor vislumbrado.
Luiz Gonzaga Leal
Vice-Presidente de Telecomunicações da Sociedade dos Usuários de Informática e Telecomunicações do Estado de Minas Gerais (Sucesu-MG).
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