Comércio pela Internet chega ao interior e a lares modestos
27/02/2008
Em 2007 dez milhões de brasileiros compraram R$ 6,5 bilhões em mercadorias das mais variadas pela Internet. Este ano, o comércio eletrônico deve faturar R$ 9,6 bilhões e atingir 13,5 milhões de pessoas. Os números robustos para 2008 – 45% de crescimento em receita e 30% de alta no número de consumidores – se repetirão pelos próximos cinco anos, garantem os especialistas. O que vai sustentar a expansão é a democratização do acesso: cada vez mais gente descobre a Internet no Brasil, principalmente os consumidores com menor poder aquisitivo (classes C, D e E) e os que moram longe dos grandes centros. Essa parcela da população demorou mais a ter acesso à tecnologia e a perder o medo de usar a rede, mas já está pronta para consumir.
O acesso à principal ferramenta para ingressar no e-commerce ficou mais fácil desde que o governo reduziu impostos sobre as máquinas, no ano passado, e também com a queda do dólar, já que muitos componentes são importados. O preço do equipamento chegou a ficar cerca de 20%mais barato em 2007. Também a oferta de crédito farto e fácil fez muita gente financiar o tão sonhado computador. O Brasil conquistou neste mês a quinta posição mundial em número de máquinas com 27 milhões em funcionamento, crescimento de 20% em um ano.
"Graças aos novos consumidores e à satisfação daqueles que experimentam comprar pela Internet e repetem a experiência, o varejo eletrônico vai continuar crescendo muito, independente do cenário econômico", diz o consultor da Câmara Brasileira do Comércio Eletrônico (camara-e.net), Gastão Mattos. Segundo o Data Popular, instituto especializado em pesquisas sobre mercado de baixa renda, o potencial de crescimento está na base da pirâmide social. Enquanto as classes A e B devem manter crescimento vegetativo, as classes C, D e E chegarão com tudo para consumir on-line, a exemplo do que já acontece no varejo tradicional.
"É um reflexo da mudança do padrão de consumo na base da pirâmide", diz o sócio do Data Popular, RenatoMeirelles. Levantamento da empresa mostra que metade das pessoas de classe A (renda familiar acima de R$ 5.675) já comprou pela rede e entre as famílias com renda mensal entre R$ 2.837 e R$ 5.674, a chamada B, um terço já fizeram a experiência. À medida que a renda decresce, a participação no consumo virtual também cai. Na classe C (renda de R$ 1.136 a R$ 2.836), o varejo eletrônico é realidade para 19,6% das pessoas. Na classe D, com renda de R$ 567 a R$ 1.135, os que consomem pela rede são 8,1% e na classe E, com salários de até R$ 566, apenas 2,4% já fizeram alguma compra pela Internet.
De acordo com o Data Popular, a expansão do acesso à Internet e aos cartões de crédito, principal meio de pagamento da web, vai mudar o perfil dos consumidores virtuais. O e-bit, especializado em levantamentos sobre comércio eletrônico, já captou essa tendência. Segundo o relatório Webshoppers, produzido semestralmente, em 2004 a camada da população com renda de até R$ 1.000 representava 5% dos consumidores. Em 2007, eles já eram 8%. No mesmo período, a renda média familiar do consumidor conectado baixou 5,6%, de R$ 3.900 para R$ 3.692.
"A tendência é diminuir mais nos próximos anos", diz o diretor-geral, Pedro Guasti. Segundo ele, deve cair também a faixa de escolaridade, enquanto aumenta a participação de mulheres e pessoas com mais idade. Entre 2004 e 2007 essa tendência é clara. No período, a idade média do comprador aumentou de 34 para 38 anos, o percentual dos que têm curso superior ou pós-graduação caiu de 57% para 49% e a participação das mulheres passou de 40% do total de compradores para 45%.
Interior
As vendas para as cidades do interior também estão em expansão e representarão cada vez mais no bolo da compra on-line. "O e-commerce cresce mais no interior, porque a maioria das cidades está longe do grande comércio. Para comprar no varejo tradicional, a pessoa tem que andar centenas de quilômetros até uma loja de porte ou shopping", diz Pedro Guasti.
Para o diretor-executivo da camarae. net, Gerson Rolim, nas pequenas cidades o varejo virtual vai abocanhar parte do mercado tradicionalmente pertencente às vendas porta a porta. "Nos grandes Estados, a Internet começa a substituir os catálogos como forma de conseguir o que não tem à venda na cidade", afirma. No país, o cenário de interiorização também está presente, com o comércio eletrônico conquistando clientes no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Guasti, diretor-geral do e-bit, completa que a compra do cliente de pequenas cidades é, em geral, maior que os negócios fechados por quem mora nas capitais, por uma razão: o preço do frete. "Como o frete é mais caro, as pessoas aproveitampara comprar mais coisas de uma só vez", afirma.
ANA PAULA PEDROSA
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