O Google não é um monopólio

09/05/2008

A mulher que ocupa a quarta posição na hierarquia do Google fala do futuro dos sites de busca e explica por que sua empresa tanto se opôs à compra do Yahoo pela Microsoft

Marissa Mayer se acha uma mulher de sorte. Com apenas 32 anos, é a mulher mais importante do mundo da tecnologia. Ela está no quarto lugar na escala hierárquica do Google, uma das duas empresas mais influentes da atualidade (a outra é a Apple). Acima de Marissa só estão os dois fundadores da empresa, Sergey Brin e Larry Page, além do seu CEO, Eric Schmidt. Com mestrado em ciência da computação pela Universidade Stanford, Marissa começou a trabalhar no Google em 1999. Ocupa hoje o pomposo cargo de vice-presidente do Serviço de Busca e de Experiência do Usuário. Em outras palavras, ela é a responsável pelo filé da empresa – além de ser sua porta-voz oficial.

Ninguém sabe qual é o tamanho da sua fortuna, mas ela está avaliada em várias centenas de milhões de dólares. Não bastasse, com 1,73 metro de altura, Marissa Mayer é daquelas loiras esguias de olhos azuis donas de um sorriso perfeito. Não deixa nada a dever a uma atriz de Hollywood como Cameron Diaz. Mas Marissa não é atriz nem top model. Ela é uma alta executiva. Nesta entrevista exclusiva a ÉPPCA, ela anunciou uma nova iniciativa da empresa, o iGoogle Artists. Mas também falou do futuro dos sistemas de busca e explicou por que o Google se opôs à tentativa da Microsoft de comprar o Yahoo – abandonada pela empresa de Bill Gates no último final de semana.

ÉPOCA – O que é o iGoogle Artists?
Marissa Mayer – É uma iniciativa onde um grupo de 70 artistas de 17 países criaram temas ou panos de fundo para ilustrar as páginas do Google. São nomes como os estilistas Dolce & Gabbana, Oscar de la Renta, Ron Wood dos Rolling Stones, as bandas Coldplay e Beastie Boys, a fotógrafa Anne Geddes, o ciclista Lance Armstrong, o ator Jackie Chan, e muitos outros (confira a lista completa). A Brasil está representado pelo pintor Gustavo Rosa e os cartunistas Fábio Moon & Gabriel Bá. A idéia é fornecer aos usuários um leque de opções que possa realmente refletir a personalidade de cada um. Cada artista produziu diversos temas que se alteram ao longo do dia. E outros artistas irão se juntar ao time.

ÉPOCA – Qual é o futuro dos sites de busca?
Mayer – Nos próximos cinco a dez anos, quatro áreas irão guiar as mudanças no mecanismo de busca. A primeira delas consiste em onde e como se pode realizar buscas. Hoje, a imensa maioria das pessoas faz isso no PC, digitando palavras-chave dentro de uma caixa. No futuro, iremos falar com o mecanismo de busca através do telefone e poderemos fazer perguntas ao invés de usar palavras-chave. Será possível fazer buscas de dentro do seu carro, por exemplo.

A segunda área que fará a diferença no serviço de busca são os diferentes tipos de mídia, que serão integrados ao serviço. Vídeo, imagens, notícias, livros, blogs, áudio. O desafio é incorporar todas estas formas de conteúdo em uma página da web sem que pareça uma enciclopédia. O terceiro item se chama personalização. A busca será cada vez melhor do que é hoje. Mas não basta fornecer melhores resultados. É preciso conhecer as necessidades específicas de cada usuário. Para atingir esse objetivo, precisaremos entender quais são as suas preferências ou o local onde eles se encontram – tudo para poder melhorar a qualidade das respostas. O quarto componente é a busca social. Não confunda com personalização. O desafio da busca social é descobrir como fazer um levantamento das preferências e do conhecimento das pessoas com quem o usuário se relaciona, ou de outros usuários parecidos com ele. Por exemplo: você quer ir ao cinema e gostaria de saber a opinião de seus amigos sobre determinado filme. Hoje em dia, a única forma de saber isso é perguntando a eles. A idéia é usar a internet para determinar quais são os gostos e opiniões dos seus amigos.

ÉPOCA – Mas isso não é invasão de privacidade?
Mayer – Qualquer mecanismo de busca pode, em determinado grau, tocar a questão da privacidade. Mas, nesse caso, o Google só irá saber quem são os seus amigos se você nos contar. Nós não saberemos o que eles fazem, a não ser que você nos conte. Você me perguntou como será a busca daqui dez anos? É óbvio que até lá nós já teremos resolvido esse problema. Mas se, assim mesmo, você não quiser usar o produto, ninguém irá obrigá-lo.

ÉPOCA – O Orkut, que pertence ao Google, é a maior rede social no Brasil. Mas fica muito atrás do Facebook e do MySpace no resto do mundo. Como você explica esse caso de amor entre o Orkut e o Brasil?
Mayer – As redes sociais são muito diferentes umas das outras. Elas atraem diferentes tipos de pessoas, e os usuários escolhem uma ou outra dependendo de onde estão seus amigos. Nos Estados Unidos, a maioria dos usuários está no Facebook ou no MySpace. No Brasil, a maioria está no Orkut. Esta é a razão para ele ser o site mais visitado do país.

ÉPOCA – Por que o Google fez oposição à tentativa da Microsoft comprar o Yahoo?
Mayer – Acredito que a concorrência é boa. Uma coisa que mantém a qualidade dos mecanismos de busca é a competição pelos usuários. Atualmente, dois dos nossos melhores concorrentes são o Yahoo e a Microsoft. Se eles se fundissem, talvez pudessem criar um melhor serviço de busca, mas certamente haveria menos concorrência, o que seria ruim para os usuários e para o mercado.

ÉPOCA – A News Corporation de Rupert Murdoch também está tentando fazer negócio com o Yahoo. Na sua opinião, isso seria ruim para a livre concorrência?
Mayer – Não posso fazer comentários em cima de suposições. A única coisa que posso afirmar é que a concorrência cria melhores serviços de busca e fornece mais satisfação para os usuários. Menos concorrência resulta em menos inovação.

ÉPOCA – Primeiro vocês lançaram o Google Earth. Depois veio o Google Sky. Qual é o próximo passo, dominar o universo? O Google terá o monopólio da web?
Mayer – Existem milhões de web sites. Um monopólio implica que exista apenas um único. A missão do Google é desenvolver aplicativos que facilitem a experiência dos usuários na internet. Fazendo isso, acredito que estamos contribuindo para expandir a internet.

ÉPOCA – Em 2007, o Google anunciou o desenvolvimento de um sistema operacional para celulares chamado Android. Mas ele ainda não saiu do papel. O Android existe de fato ou é um vaporware, a tática diversionista de mercado?
Mayer – O Android é real. Quando se cria um sistema operacional, é preciso contar com muitos desenvolvedores criando aplicativos para rodar dentro dele. É nesta fase que nós estamos. O programa ainda não está pronto para ser usado por consumidores como a minha mãe, por exemplo. Mas eu acredito que num futuro próximo vamos começar a ver produtos rodando o sistema Android.

ÉPOCA – Como você se sente sendo a mulher mais em evidência da empresa mais em evidência do planeta?
Mayer – Não sei como responder a esta pergunta.

ÉPOCA – Tente, por favor.
Mayer – Não ocupo meus pensamentos com essas coisas. Penso em termos da grande responsabilidade que carrego, que é melhorar a experiência dos usuários e do serviço de busca do Google. Isso significa um trabalho muito difícil e prazeroso. Acredito que tenho muita sorte, porque na minha função tenho a oportunidade de trabalhar com pessoas ótimas em cima de problemas muito importantes.

PETER MOON

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