Os reflexos da inclusão digital
16/07/2007
No momento em que o Brasil comemora o aumento de 40% (de 2005 para 2007), no número de pontos de inclusão digital, deve-se fazer uma avaliação criteriosa para apontar os reais avanços e os efetivos gargalos. Este crescimento, apontado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) através de pesquisa apresentada em maio, deixa clara a aposta dos governos em reduzir drasticamente a manipulação de papéis e a burocracia, principalmente na área de prestação de serviços, educação e de arrecadação.
Em 2005, a Unesco mapeou 12 mil pontos de inclusão digital no Brasil. Os dados do Ibict mostram um salto para 16.722 pontos até o início de 2007. No entanto, muito cuidado: a comparação é feita tomando como base levantamentos executados por organizações diferentes com, certamente, metodologias independentes.
Isso, entretanto, não invalida a constatação, feita pela pesquisa do Ibict, de que 62% das iniciativas partem do governo federal. Levando-se em conta de que boa parte dos governos estaduais e várias prefeituras também estão se empenhando neste sentido, é possível garantir que as ações de inclusão digital do poder público brasileiro são sensivelmente mais significativas do que este índice.
E esta predisposição governamental não para por ai. Os mais de 16 mil pontos de inclusão digital podem dobrar em menos de dois anos. O Ministério das Comunicações prevê conectar mais 20 mil pontos. E tem mais: o ministro Hélio Costa quer levar a Internet banda larga para todos os 5.565 municípios brasileiros, priorizando escolas federais, estaduais e municipais.
A meta é maravilhosa e o quadro está se evoluindo bem. No entanto, ficam algumas dúvidas extremamente cruéis. Uma delas é acachapante: como fazer a inclusão digital em 18 mil escolas brasileiras que ainda não recebem energia elétrica, e onde estudam pelo menos 700 mil alunos da educação básica? Isso sem falar nas centenas de municípios – sobretudo nas regiões Norte e Nordeste – que ainda não recebem energia elétrica com regularidade.
Independente destas dificuldades, o Governo Federal avisa que está se reestruturando para o mundo digital e faz um alerta à iniciativa privada sobre os riscos de uma ainda evidente miopia digital em diversos setores da sociedade brasileira. Na verdade, quando se fala de população brasileira, esta inclusão não vem encontrando forte resistência nem mesmo por parte dos cidadãos teoricamente mais resistentes. Até pelo fato dela permitir novas expectativas profissionais e mesmo uma recolocação no mercado de trabalho.
O gargalo mesmo está em algumas empresas e organizações privadas que ainda insistem em não se equipar tecnologicamente. E este investimento não é apenas em máquinas, softwares e periféricos. Mas também e, sobretudo, em qualificação de sua mão-de-obra para a operacionalização desta nova estrutura. Empresas especializadas em apoio tecnológico multimídia estão no mercado também para prestar este serviço à iniciativa privada. Por enquanto, os governos saíram na frente e estão usufruindo desse know-how em seus processos de modernização por entenderem que o mundo da informática é hoje a maior ferramenta da atividade humana.
Alcir Abuchain é empresário em Campo Grande/MS e diretor técnico da Master Case Digital Business e da Lumo Sistemas.
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